22 maio 2007

O Adamastor

O Adamastor de Santa Catarina ©Adriano Lisboa, 2006


Temos lutado contra os mostrengos, os Adamastores que nesta cidade nos querem derrubar.

São os destrutivos como o apocalíptico terramoto que consumiu ouros e pratas entretanto por aí acumulados, e que gerou lenda por direito próprio, intervenção divina ou natural, pensado e debatido por filósofos, teóricos, e intelectuais da época. Do meio dos seus horrores, dominou o monstro a mão férrea do Marquês, tirano com visão, que entre o caos ajudou e castigou os vivos, enterrou os mortos, e pensou os alicerces da nova cidade.

São os viciantes como o ócio, o sol de Verão ou o tédio pessoano, ou também as corrupções e corruptelas que hoje nos acinzentam os horizontes, e que ninguém parece querer vencer.

Mas o Adamastor, o original, lá do alto, de Santa Catarina, mira Lisboa. Conseguimos dominá-lo, a este que não aos outros, pois enlevado e embalado pela beleza ribeirinha que se espraia à sua frente, pelos telhados do casario e pelo azul que do céu desliza e tinge as águas rutilantes do rio, o monstro mergulha em sonhos de ópio e se esquece de nos assombrar.

Vários poetas cantaram o Adamastor. Camões, que lhe deu a forma, horrendo e lacrimoso, pintou-o assim. Pessoa dobrou o mostrengo à vontade de D. João II, pela mão do homem do leme, a quem os Xutos também recorreram para o torcer, e assim, remar contra a maré.

Percam 2 minutos a ler os poemas, vale a pena…

Sem comentários: