21 maio 2007

(Isto não é) A Apologia de Sócrates


Júlio de Castilho, retrato a carvão executado em 1920 por José Malhoa

Júlio Castilho, digna figura da olisipografia, legou-nos uma obra rica e textualmente inspirada, à qual recorrerei sempre que se justifique.
Eis o que escreveu no início do século passado:

"Chegou modernamente tudo isso de honrarias à miséria a que nunca se imaginou que pudesse chegar! Nada mais baixo que os títulos, nada mais baixo que as condecorações, nada mais baixo que os tratamentos distintos. Já no seu tempo dizia o abade de Jazente, que só três coisas andavam baratas:

Os tremoços, o arroz, e as Senhorias.

Que diria hoje!

Ao ínfimo cidadão se escreve como dantes só se escrevia a ministros. O protocolo epistolar degenerou em banalidade irrisória [ultimamente, a democratização imposta pelo e-mail veio alterar este pretensiosismo de linha].

Mente Marta como sobrescrito de carta – moteja o anexim; e tem razão.

Que isto por cá, mais ou menos, sempre andou um tanto fora dos eixos, é indubitável; sempre exageraram portugueses os extremos e requintes da civilidade; e nisso concordam estrangeiros de grande critério, como, por exemplo, Feijóo, o beneditino do Theatro critico, dizendo:

Vi en una ocasion requebrar-se dos aulicos [membros da corte] com tan extremada ternura, que un Portuguès podria aprender de ellos frases y gestos para un galantèo."

E mais não digo.

3 comentários:

Maria Arvore disse...

Já no tempo do visconde de Almeida Garrett se dizia "foge cão que te fazem barão; mas para onde se me fazem visconde?". ;))

E Portugal caminha glorioso na proliferação de doutores e engenheiros no papel. A medida ambiental que se impõe é a reciclagem. ;))

Adriano Lisboa disse...

Pois é Maria.

Mas no entretanto... em que contentor os pomos???

Maria Arvore disse...

No verde, dos vidros. :)

Embebedam-nos mas depois nós partimos-lhe o gargalo. ;)