05 maio 2007

Cariño

Eu, que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.

Escreveu Cesário Verde. Permitam-me por vezes passar por aqui alguma poesia.
A estima da nossa cidade está por baixo. Em outro dia, alguém dizia num media respeitado e respeitável, exercendo o seu direito de cidadania que não contesto e aprovo, que era triste, que Lisboa deixara de ser uma cidade internacional, sequer de relevância europeia, resumindo-se hoje a uma cidade iberista por contingência e destino, talvez comparável à [quente] Sevilha.
Digo eu, e depois? Lisboa não é o que é, é o que penso que é.

Continuo a amá-la.
Hoje não vou em histórias e deixo aqui algo de carinho que por ela sinto, pela pena de Eugénio de Andrade, que também a amava.

Alguém diz com lentidão:
“Lisboa, sabes…”
Eu sei. É uma rapariga
descalça e leve,

um vento súbito e claro
nos cabelos,
algumas rugas finas
a espreitar-lhe os olhos,
a solidão aberta
nos lábios e nos dedos,
descendo degraus
e degraus
e degraus até ao rio.

Eu sei. E tu, sabias?

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