25 setembro 2007

O Milagre da Ermida da Encarnação

Por este espaço irão passar semanalmente histórias de Lisboa, engraçadas, pitorescas ou simplesmente intrigantes, daquelas que por aí andam esquecidas nos livros. A de hoje é curiosa e prende-se à crença religiosa e à fé dos lisboetas.

Sem mais delongas cedo a palavra ao padre-cura Pedro de Oliveira, do lugar da Charneca, o qual nos relata nas Memórias Paroquiais de 1755 a bem-aventurança de um certo caminhante. Conta-nos o padre Pedro:

“Junto ao local da Panasqueira, na estrada que vai para Sacavém, no ano de 1725, vindo uma noite Joseph Manzone, de Lisboa, para sua casa, que era em outro lugar de Sacavém, e trazendo consigo dez mil cruzados, lhe saíram três ladrões para tirar-lhe o dinheiro, e invocando o patrocínio de Nossa Senhora da Encarnação, instantaneamente se achou a porta da sua casa, sem saber como, nem pelo caminho por onde foi: por cujo benefício logo fez levantar um nicho no mesmo lugar com a imagem de Nossa Senhora (…)”.

Este prodígio milagroso motivou os fiéis e a ermida foi durante alguns anos alvo de peregrinações, antes de ser destruída pelo terramoto em 1755 e deixada ao abandono.
Era um tempo em que tudo era possível, em que literalmente se acreditava que “a fé move montanhas”, e porque não, pessoas. Como tantos outros o dito popular subjacente ajudou ao longo dos tempos a criar uma ponte entre o senso comum e a fé. Hoje, muitas das vezes, não passa de uma frase de circunstância.

Os relatos de milagres foram criando raízes e abundam na História da cidade, cimentados na fé que comanda o dia-a-dia das suas gentes, embora cada vez menos porque as ciências têm vindo a usurpar, com grande êxito, o lugar privilegiado que o maravilhoso religioso vinha a ocupar na mente humana ao longo dos séculos.

Mas quantos de nós, confrontados com a adversidade, não pensámos ou rangemos entre dentes um esperançoso “Deus me ajude”?
«Memórias», Meia-Hora, 21/09/2007

Colaboração

Iniciei no passado dia 21 de Setembro uma colaboração com o jornal "Meia-Hora", que se traduz numa crónica semanal, publicada à sexta-feira, abordando os mesmos conteúdos que por aqui passam.

O texto será reproduzido neste espaço na semana seguinte à publicação.

Alguns temas já aqui apresentados serão objecto de um novo tratamento, pois penso ser interessante o seu reaproveitamento.

Dependendo da minha disponibilidade continuarão a surgir por aqui textos novos.

Obrigado pela vossa leitura,
Adriano Lisboa