03 julho 2007

O Deserto

Damas passeando em burros

Este espaço não se sustenta na crítica jocosa ou no comentário político, não se constrói como tal.

Isto dito, para o bem ou para o mal, peço que no texto que se segue se substituam os asininos referidos por outras alimárias, as de bossa. O escrito é de Alberto Pimentel, estudioso de Lisboa, e data do final do séc. XIX.

“Estava finalmente diante do Tejo. (…)

Sendo impossível lançar sobre as águas uma ponte, em razão da extrema largura do Tejo, encarregam-se da travessia os vapores do sr. Burnay, que, em poucos minutos, nos depõem na outra-banda. Chegados ao cais de Cacilhas, célebre pelo assassinato do general Teles Jordão [?], em 1833, é acometido o viajante por uma chusma de rapazes do sítio, que vem oferecer os tradicionais burrinhos.

Vamos ao castelo de Almada, à Fonte da Pipa, à fábrica da Margueira, e ainda mais longe, ao Pragal, ao Caramujo, à Cova da Piedade – nos burrinhos.

É portanto o Tejo a barreira interposta ao presente e ao passado, porque na margem direita silva o caminho-de-ferro, rodam os ónibus e os trens, há o grande movimento das modernas capitais, e na margem esquerda vão subindo, vergastados pelos rapazes, para o Alfeite ou a Amora, os anacrónicos burrinhos das bíblicas peregrinações. (…)”

Será que a incongruência de que tanto se fala se tratou apenas de um descuido … de um século?

Bibliografia e Imagem

3 comentários:

Maria Arvore disse...

:)))

Até pode ser descuido para quem não vê o presente por mor de umas palas perto dos olhos. ;)

Porque as "cameladas" só se repetem cá no deserto uma vez por ano, na altura do S. João, numa peregrinação de alimárias de Cacilhas à Cova da Piedade.

E mesmo que dinamitem as pontes, continuam os barcos a levar gente, como no século XIX levaram o liberalismo para Lisboa, depois da derrota do Quinzinho Teles Jordão ficando na margem esquerda a Avenida 23 de Julho e na margem direita a Avenida 24 de Julho.

Adriano Lisboa disse...

Olá Maria,

não sabia da burricada e a tua nota sobre o general Quinzinho redobrou-me a curiosidade sobre essa história.

Até mais ver.
:)

Luis Eme disse...

Mas é tudo a brincar...

Como era no final do século XIX, começo do século XX...

Mas estamos cá, rente ao Tejo, sem medos dos "camelos", porque, "burros, só uma vez por ano...