18 junho 2007

Introdução

Lisboa - século XVII
.
Este texto chega com atraso. Por direito estaria lá em baixo, no primeiro capítulo deste livro que funciona ao contrário, que sobe páginas em vez de descer. Chega adiado mas no seu tempo.

É do Padre António Carvalho da Costa, e foi retirado da sua monumental obra Corografia Portuguesa. Introduz o Tratado VIII, último do terceiro, e último, volume, intitulado “da cidade de Lisboa”, e é bonito:

“Da descripção Topografica da famosa, nobre, & opulenta Cidade de Lisboa.

A REGIA Cidade de Lisboa, Corte de Portugal, & Emporio de Europa, intentamos descrever, & ainda que merecia mais hum livro particular, que huma breve narração, procuraremos estreytar as suas grandezas, não deyxando de individuar as suas principaes partes.

Querem os Astrologos que esteja situada debayxo do Signo de Aries, & he justo que dominasse o primeiro dos Signos do Ceo a primeyra das Cidades do mundo. Está na latitud Boreal de 38. graos, 48. minutos, & na longitud de 12. Graos, na parte mais Occidental de Espanha, & em tão docil clima, que sem que a offendão os ardores do Estio, temperados com o vento Oeste, a que chamamos viração, com a vizinhança do mar, & com a frescura dos valles, não padece excessiva calma; sendo o Inverno ainda menos rigoroso, porque o Sol com a sua presença, quasi sempre livre de nuvens, & nevoas, & sem que nunca cahisse neve, o que se contará com prodigio; fica sendo o seu fertil terreno huma perpetua Primavera.

Procurou a Arte aperfeyçoar tantos beneficios da natureza, emmendando tambem alguns defeytos, que na desigualade de sete montes fazião a sua situação menos accomodada; porém ganhadas com suaves subidas aquellas imminencias, como estão coroadas de templos, & Palacios, formão hum perfeyto Antiteatro, deyxando lograr aos que entrão pelo Porto aquella bellissima vista, que se perderia, se fosse assentada a Cidade em huma planicie; & para tratarmos methodicamente das suas partes, descreveremos cada hum dos sete montes, sobre que se eleva esta Augusta emula de Roma.”

O relato é de finais do século XVII, de antes do terramoto que enegreceu as mentes. Lisboa era a Primavera perpétua, o clima ameno, era a Beleza do anfiteatro de colinas que encanta quem pelo rio entra. Lisboa era a primeira cidade no mundo, sob a sombra do primeiro signo, que a Roma se compara, e a que só Roma se compara.

Talvez ainda vivamos no Paraíso… e não o sabemos. Ou então, talvez não.

Sem comentários: