16 abril 2007

O Inglês



Existe maior delícia para um português que ser elogiado por um estrangeiro? Com esta frase dúbia introduzo dois textos do mesmo autor. O seu nome é Richard Croker, capitão de infantaria inglês em viagem pelo nosso país nos idos de 1780. Os textos são datados e exprimem o desdém e soberba com que os membros do Império de Sua Majestade encaravam outros povos. No primeiro texto é notório que o capitão, na sua aproximação à cidade, se apaixonara por uma bela portuguesa, porventura de olhos negros, algures pelas estradas de Sintra. No segundo é evidente que depois de brincar com o fogo… terá pago a honra a alguém, varapauzado e cheio de negras, como tantas vezes Sancho Pança o foi por simples má sorte e destino.

Das mulheres:
“Era impossível não reparar, nas cidades em que passámos ultimamente, na diferença entre as mulheres de Portugal e as de Espanha.
As mulheres portuguesas são agradáveis, elegantes no vestir, com lindos olhos e dentes e belo cabelo muito abundante: nos seus penteados misturam fitas e flores com muito bom gosto e isto mesmo mulheres de classes baixas, pois não nos foi dado ver outras.
Em resumo, tem que se admitir que há mulheres mais bonitas e melhores mulas (sic) em Portugal que na Andaluzia.”
Já em Lisboa: “Um espectáculo que quase me esquecia de mencionar: refiro-me às senhoras portuguesas às janelas. (...) Como não se vêem mulheres nenhumas na rua, senão as de baixa condição, elas devem com certeza estar fechadas em casa e dizem que os maridos portugueses são extremamente ciumentos.”

Dos homens, depois de um encosto mais viril (assumpção minha):
“Os homens portugueses são, sem dúvida, a raça mais feia da Europa. Bem podem eles considerar a denominação de «ombre blanco» como uma distinção. Os portugueses descendem de uma mistura de Judeus, Mouros, Negros e Franceses, pela sua aparência e qualidade perecem ter reservado para si as piores partes de cada um destes povos.
Tal como os Judeus, são mesquinhos, enganadores e avarentos. Dos Mouros são ciumentos, cruéis e vingativos. Tal como os povos de cor são servis, pouco dóceis e falsos e parecem-se com os Franceses na vaidade, artifício e gabarolice. (…)
Os homens são notoriamente ciumentos e, se pode haver uma desculpa para esta paixão, deve ser que onde as mulheres são dignas de ser amadas e os homens tão opostos, surgem crimes privados e assassínios.”

Se existe dor, depois da injustiça desta descrição, ela é minha, pois de certeza que não somos assim, como os franceses.
Quanto às nossas mulheres, Lisboa presta-lhes homenagem nas curvas luminosas das suas colinas, pelas quais deixamos deslizar o olhar como um toque, um cheiro, um desvario.

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